sexta-feira, 23 de julho de 2010

Trabalho de Controle à Hipertensos e Diabéticos. (cont.)

Em novembro, o tema discutido foi o receio da equipe de fazer mudanças e desestruturar o programa. A proposta de criar os grupos “ouvido amigo”, ao mesmo tempo em que era vista como boa possibilidade, gerava receio de que se pudessem desmotivar os pacientes. Concluíram que também eles, membros da equipe, receavam se desestruturar com as mudanças. Perguntei o que pretendiam mudar. Argumentaram que seria reduzir o desgaste que sentiam com o número grande de pacientes a atender e ampliar a capacidade de captar novos pacientes. Após muita discussão, sugeri que destinassem as quartas-feiras (que habitualmente tem um número menor de pacientes) para experimentar o novo modelo, com os grupinhos funcionando uma vez por mês, mantendo-se as segundas e terças no modelo atual. Às quartas-feiras normalmente vêm cerca de 20 pacientes. Eles seriam convidados a participar do modelo novo. Os que quisessem permanecer no modelo antigo seriam remanejados para as segundas ou terças-feiras, conforme preferissem. As vagas que sobrassem às quartas-feiras, seriam preenchidas com pacientes da segunda ou terça mediante convite. A proposta começou a ser elaborada. Pude verificar, no início de dezembro, quando participei de um reunião de confraternização com os pacientes, os vínculos que existiam entre esses e a equipe e, certamente, o receio que tinha a equipe era o de aluir tais vínculos. Ao verbalizar minha percepção, foi nítido o alívio que sentiram e combinamos, então, que só implantaríamos o modelo em fevereiro ou março, quando toda a equipe se sentisse preparada e confiante.

Em fevereiro de 2008, A equipe iniciou as reuniões com o modelo novo às quartas-feiras e definiu as pessoas que desempenhariam as diversas funções propostas. O grupo mostrou-se extremamente motivado para iniciar o processo embora, como seria natural, estivessem preocupados em relação ao seu desenvolvimento. Concluímos, naquele momento que, com a motivação do grupo e o espírito de solidariedade que estava vigorando entre todos, as dificuldades iriam sendo enfrentadas à medida que aparecessem.

Assim ocorreu efetivamente e as nossas reuniões passaram a ter como foco a discussão da organização e o funcionamento das reuniões do “ouvido amigo”. Os sentimentos da equipe eram verbalizados por todos, criando-se um clima de apoio mútuo bastante favorável. O enfermeiro, que expressou para o próprio grupo de pacientes sua ansiedade com o novo modelo, manifestou sua surpresa com a receptividade dos pacientes. Ele achava que não iriam falar nada, mas não foi o que aconteceu. Pudemos todos perceber como o profissional de saúde entende que ele é quem tem que falar e que ao paciente cabe escutar e cumprir. Na verdade, é muito difícil participar de uma reunião em que tenhamos que, Na verdade, é muito difícil participar de uma reunião em que tenhamos tudo, ouvir. Comentei que o ato de falar por si só é terapêutico porque coloca o paciente em contato consigo mesmo e lhe dá um sentimento de acolhimento, de atenção, que o reconforta. Comentei que estamos habituados a dar resposta e causa ansiedade não dá-las. Acrescentei que não basta ouvir, mas precisamos estimulá-los a buscar as respostas, as soluções. Perguntei se estivéssemos num quarto muito escuro, sem saber se existiam portas e janelas, o que faríamos?! Um dos membros da equipe disse que morreria. Outro, todavia, comentou que tatearia a procura de uma porta ou janela. Concluímos que, por isso, devemos estimular os pacientes que tendem a ficar passivos, achando que nada podem fazer a “tatear” na busca de uma solução.

Outro episódio marcante, na ocasião, foi a possibilidade de afastamento de um dos membros da equipe. Após muita discussão e apoio da equipe, o funcionário conseguiu retornar às atividades que desempenhava junto aos hipertensos.

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